Artigo da série que explora o contexto das experiências não-ordinárias no Brasil e como elas impactam nossa população. Todos os dados foram coletados e relacionados a partir de estudos feitos pelo grupo de Neurociência das Crenças e Valores do Instituto D´or de Pesquisa e Ensino.
Autora: Maria Clara Laport
É comum, quando pensamos em “experiências não ordinárias”, que nos venha a cabeça ocasiões pouco convencionais, como sentir presenças invisíveis e alterações na percepção de si mesmo. Porém, uma experiência emocional que se destaque das demais vividas também pode ser extraordinária, seja por sua intensidade ou por sua unicidade.
As emoções são parte fundamental da experiência humana. Elas influenciam comportamentos, decisões e relações sociais, além de refletirem aspectos culturais e contextuais de uma população. Moldam a forma como interpretamos o mundo e, muitas vezes, guiam nossas escolhas de vida.
Figura 1
Nas pesquisas realizadas pelo IDOR, com apoio da John Templeton Foundation, adquirimos dados de mais de 20 mil pessoas que, dentre outros diversos assuntos, também responderam sobre suas vivências emocionais. Mais de 70% dos participantes tiveram experiências marcantes relacionadas a emoções positivas, como amor, alegria ou prazer.
Experiências negativas também ocupam um espaço relevante. Mais da metade das pessoas relataram ter tido alguma perda, medo ou desesperança, e cerca de 40% mencionaram vivências de infortúnio. Esses dados demonstram como momentos de dor e adversidade também podem se destacar como extraordinários, deixando marcas profundas em nossa memória.
Para além dessas emoções mais “comuns”, o grupo de emoções também envolve experiências de devoção – direcionada a pessoas (22,9%) ou a objetos (26,8%) – e de conexão com lugares especiais (42,4%), relatadas por uma parcela menor de participantes.
A COMPLEXIDADE DA CONEXÃO HUMANA
Embora menos frequentes, essas vivências apontam algo muito singular ao ser humano: a capacidade de criar vínculos emocionais. Vínculos esses que, algumas vezes, não envolvem outros seres vivos, ou pessoas de nosso convívio. Assim, um objeto pode se tornar guardião de memórias e afetos, uma figura distante (como um ídolo, ou um santo) pode despertar um sentimento de entrega e confiança, e até mesmo um lugar nunca visitado pode gerar uma sensação inexplicável de pertencimento.
Esses resultados mostram que a dimensão extraordinária das emoções não se limita às mais universais, como o amor ou a alegria. Ela também se manifesta em experiências que revelam a profundidade da nossa capacidade de criar significados e nos conectar com o mundo.
Para seguir explorando o universo das experiências não-ordinárias, não perca os próximos artigos da nossa série!
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