Desvendando as NOEs: habilidades psíquicas

Desvendando as NOEs: habilidades psíquicas

17 de outubro de 2025

Artigo da série que explora o contexto das experiências não-ordinárias no Brasil e como elas impactam nossa população. Todos os dados foram coletados e relacionados a partir de estudos feitos pelo grupo de Neurociência das Crenças e Valores do Instituto D´or de Pesquisa e Ensino.

Autor: Pedro Fortes

Caminhando mais adiante na investigação das experiências e estados mentais insólitos, com base no Inventário de Experiências Não-Ordinárias (INOE), o grupo de Neurociências dos Valores e Crenças do IDOR se debruçou sobre as habilidades psíquicas e paranormais. Como visto nos artigos anteriores, a versão brasileira do INOE foi validada por esse mesmo grupo de pesquisa e conta com 37 itens de experiência organizados em diferentes categorias conceituais. Na categoria de “habilidades psíquicas” figuram as seguintes experiências: déjà-vu, sonhos lúcidos, vidas passadas, percepção extrassensorial (ESP) e ver auras.

Seja de maneira temporária ou permanente, essas habilidades oferecem ao indivíduo a possibilidade de perceber algo que comumente não se pode perceber. A experiência de déjà-vu, por exemplo, refere-se à estranha percepção de já ter vivido uma determinada cena enquanto ela se desenrola. Nos sonhos lúcidos, adquire-se a capacidade de permanecer consciente durante os próprios sonhos e, na maioria das vezes, de controlar seus enredos e personagens.

Já as experiências de vidas passadas provocam no indivíduo a sensação de poder acessar memórias de uma vida anterior, por vezes com riqueza de detalhes e forte conteúdo afetivo. A ESP, por outro lado, envolve habilidades premonitórias – isto é, o indivíduo prevê eventos futuros que se tornam realidade algum tempo depois. Há ainda uma quantidade substancial de indivíduos que relatam a habilidade de ver auras em torno de outras pessoas, como halos de luz em volta de suas cabeças ou corpos, comumente alegando a capacidade de extrair informações sobre a saúde física, mental e espiritual através dessas visões.

DADOS DE PREVALÊNCIA

Imagem 1. O gráfico de barras indica a frequência média entre os participantes somados dos 6 estudos para as experiências de “Déjà-vu”, “Sonho lúcido”, “Percepção extrassensorial” (ESP), “Vidas passadas” e “Auras”.

A prevalência média dessas experiências na população brasileira foi estimada a partir dos dados obtidos com 6 amostras distintas. A experiência de déjà-vu foi aquela com maior prevalência dentre as 37 experiências do inventário, sendo relatada pelo menos uma vez na vida por 86,45% dos participantes e mais de 10 vezes na vida por 25.37%.

Quanto à experiência de sonho lúcido, 80% dos participantes relatam tê-la vivido pelo menos uma vez e 18% mais de 10 vezes. A experiência de ESP, embora muito prevalente (55,24%), se destacou no grupo como aquela que mais raramente ocorre muitas vezes ao longo da vida, com apenas 5% dos participantes relatando-a mais de 10 vezes.

Mais incomum, a experiência de vidas passadas foi relatada pelo menos uma vez por 29.28% dos participantes, e 2/3 destes reportaram que a vivenciaram no máximo 3 vezes ao longo de toda a vida. Por fim, a experiência de ver auras figurou como a mais rara do grupo e também dentre todas as experiências do inventário, com uma prevalência estimada de 15,10% e com apenas 1/4 desses participantes reportando-a mais de 3 vezes na vida.

IMPACTOS NA SAÚDE

Sabe-se que indivíduos que relatam esse tipo de experiência frequentemente demonstram traços psicológicos associados à fantasia, experiências dissociativas e a um maior nível de absorção em processos mentais, sensoriais e imaginativos. Essas características psicológicas tornam o indivíduo mais propenso a vivenciar, valorizar e interpretar essas experiências de maneira significativa.

As interpretações podem envolver explicações metafísicas e paranormais ou perspectivas fundamentalmente materialistas e cientificamente orientadas, e serão determinadas em grande parte pelo contexto sociocultural e o sistema de crenças e valores da pessoa.

Alguns autores defendem a hipótese de que experiências de habilidade psíquica como a ESP ou ver auras podem oferecer uma maior sensação de controle e maestria sobre o ambiente, sobretudo para indivíduos inseridos em ambientes instáveis ou com histórico de exposição a eventos traumáticos. Nesse caso, é possível que essas experiências tenham valor adaptativo quando interpretadas de maneira positiva e integradas ao contexto de vida de quem as relata.

Por outro lado, experiências como o déjà-vu e a percepção de vidas passadas podem ser compreendidas como “paramnésias” – distorções no processamento de memórias – e podem ser manifestações de alterações neurológicas quando passam a ocorrer frequentemente. Nesse caso, é importante que sejam investigadas por um profissional clínico.

Nos próximos artigos, exploraremos mais a fundo a associação entre as experiências não-ordinárias, sua dimensão interpretativa e a saúde mental. Até a próxima!

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